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Porto Velho, Rondônia, Brazil
de repente sem ruído as unhas crescem os ossos esticam os dentes nascem o cabelo escurece os olhos aguçados a boca o peito o abdômen imutável a tumba confortável a tumba confortável a tumba só confortável só a tumba confortável

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Duas pedras

Um passeio no campo
entre anseios de ancião,
vá calçado, pela calçada
de pedrinhas polidas
que está no meio da estrada
volta-se menor do campo
sempre vai e volta
e não volta.
foi o pequeno com o
peso do seu clã
garimpando a terra
com os pés de fã
da terra, dos sítios
das cercas de seu clã
fez subir cheiro de mato
do buraco, flores do cacto
seus cabelos negros
por decreto, roupas reais
e seu trejeito de verso
dormiu
acordou
pedra




Outro dia na caverna
entre avisos de vá em frente
na altura da savana
rasteje rente, não ame
o universinho das folhas
é pagão, é pastoril
é pequeno
só são coisas
vai a forasteira com o
mapa de si mesma
rasgando o céu
com unhas de titã
o céu da terra, dos sítios
das cercas de um clã
sentiu um cheiro de mato
descansa no buraco, flor do cacto
seus olhos velhos
foco incerto, vestes anacrônicas
e seu trejeito inverso
dormiu
acordou
pedra

domingo, 30 de maio de 2010

cápsula do tempo no espaço

Quando formos à Paris
vou te levar num lugar escondido
que eu ainda não conheço
mas tenho certeza que existe
daqui pra lá
algumas emoções e ideias vão mudar
estaremos menores em nós mesmos
esse será o dia de expandir
de falar do cabelo alheio
daquele olhar telepático
quando a música toca os dois
daquele sorriso estupefado
quando o poema é os dois
das mãos contrastantes
balançando
a passos largos e saltitantes
quem vir aquelas mãos
não vai saber o que se passa
mas a explicação virá de graça
no abraço realizado de Arthur comigo
todos irão saber
daquele riso
assexual e bandido
que aqueles dois são o que há de maior
amigos
e vão fazer odes à nossa
gargalhada
e vão rimar nossa cor
com brilho
e vão amar nossa boca
afrancesada
e vão blasfemar do nosso
verso ambíguo
nós cantaremos abraçados
na rua
Kid Abelha, Buarque e Titãs
sem notar tom, sem éros, ágape ou fraterno
você vai apagar meu cigarro
e eu vou riscar seu caderno

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pedra e vento

A pedra sôlta da rua
solta alegria sôlta
solta a pedra da rua
salta o dente da boca

Da rua da Pedra Branca
sôlta a pedra de neve
solta do pé e balança
salta unha da pele

A rua de pedra sem dono
solta o mundo de sí
sôlta em total abandono
salta bem longe dalí

A rua da Pedra do Frade
solta água em gole
salta logo da pedra
sôlta essa pedra é mole

Carousels

Bem vindo à cidade
belo circo...
Todas as virgens são suas
espero que nos perdoem se
já estão um pouco usadas
vocês fiquem a vontade
pra cantorias e danças
podem rir alto nas ruas
desertas da madrugada
todos os bares lhes servirão
senhores donos do circo
comam onde, quando
e quem quiserem os seus bichos
Podem invadir os enterros e velórios
façam o espatáculo onde couber
não reparem, prezados palhaços,
o tom de sépia e de horror
nos bordéis e nas igrejas
há muito tudo é assim...
os movimentos são lentos mesmo
e o vento é sempre esse bafo
os cavalos estão a esmo
pouca sombra, sempre mormaço
fiquem tranquilos
ninguém abre os olhos depois
do pôr-do-sol
todos estão felizes na vila
as crianças estão mudas
mas já organizaram a fila
que bom, homens do circo
que trouxeram pipoca e
algodão doce e macio
vocês trouxeram o seu pra cá
isso fez pairar um clima tão contente
e todos, com garras e dentes
lhes esperam ver no picadeiro
o céu na cidade... fome pagã
ruivas, gatos e anomalias também vieram
atenção! senhoras e senhores
(que rufem os tambores...)
Peguem suas maças proibidas
começou o circo dos horrores!

domingo, 9 de maio de 2010

Sem título

Quando criança ele percebeu que não gostava daquilo de estar tão solto no mundo. Não jogava bola, não pintava o desenho com força, bebia pouca água, evitava urinar. Certa vez se queimou na panela de pressão e sentiu tanta dor por ter movido a mão tão rápido que começou a trabalhar o controle dos impulsos. Transava mal e nunca ficava bem depois de gozar, com o tempo parou com isso. Seu martírio eram os espirros, tosses e soluços... Acabavam com ele. Porém a agonia das agonias ele não podia diminuir e vivia sempre com aquele incômodo, aquela fadiga, como se formigas subissem em suas pernas, um cisco perpétuo no seu olho, o inferno da Bíblia dentro dele... Todos aqueles movimentos das entranhas, as reações químicas nas células, os ácidos, as enzimas e o vilão, aquele músculo indiscreto, burro e agitado chamado coração. Já passava da hora de pará-lo, seria a chance dele viver em paz. Escolheu um rio calmo e silencioso, escolheu uma noite escura e contida em si mesma, uma noite que não invadisse poetas e nem passasse pela janela para embrulhar romântico algum, escolheu um canto sem memória e sem roupas entrou comedido e caminhou lento para o meio. Quando já não podia ficar em pé se deixou afundar e nunca o tinha incomodado tanto o barulho do coração quanto naquele silêncio glorioso. Afundou decidido, mas começou a se render a terríveis espasmos e a um grotesco motim dos orgãos nele anexos, seus membros quase atrofiados tinham agora uma vida que lhe dava náuseas. Ele frustrado percebeu que seu corpo iria desistir em breve e manteve sua postura honrosa de queixo alto, olhos soberbos e mandíbula cerrada. Até que uma mão rápida invadiu sua água e uma luz amarela cegou seus olhos, alguém chamou a polícia pra pegar o cara pelado que estava andando há 3 horas dentro de um laguinho perto da estrada.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Não blefe mais

não blefe mais
se não te abro
meu leque de ás