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Porto Velho, Rondônia, Brazil
de repente sem ruído as unhas crescem os ossos esticam os dentes nascem o cabelo escurece os olhos aguçados a boca o peito o abdômen imutável a tumba confortável a tumba confortável a tumba só confortável só a tumba confortável

terça-feira, 27 de abril de 2010

porto ou aeroporto?

você é tudo, uma
parte do meu todo
você é meu, fuga
da singularidade, corro
eu te amo, entre
os dentes, rio
e morro

se você que gosta de
definir tudo
no seu dicionário luso
achar que é medo,
terá descoberto meu
segredo
mas se mudar de
idéia e classificar como
frieza
poderá por as cartas da
culpa sobre a mesa

você não se importa,
comigo
colhendo folhas na
sua floresta
você me escreveu na
testa
comunista!

pra quem conhece a
correnteza do Madeira
e a poesia do Ferreira
dou o direito,
bem o que não preciso
dar
de fazer da própria
essência o que bem
achar
e dou meu sorriso mole,
toma! pediu em gole.

no fim, meu amor
seremos eu e o mundo
e vocês dois e nós três
lá você vai pensar
que chegou apenas
o tempo de colher
calma, minha testa vai dizer

e quando um de nós
dois for atropelado
alguém vai ter que
esperar o vôo com
um caixão atrelado
alguém vai ter que
chorar pela última
ofensa
e alguém vai ter que
se fingir de morto
ou pode ser no porto...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Susto

pedi às crianças que
desenhassem um herói
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua

pedi às crianças que
desenhassem quem eram
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua
pedi às crianças que
desenhassem a desigualdade social
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua
então, de propósito, curiosa,
pedi às crianças
que desenhassem
o mundo perfeito
o objetivo maior
todas desenharam
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua

outra
casa
outra
árvore
outro
sol
outra
lua

várias
casas
várias
árvores
cada uma com seu
sol
cada uma com sua
lua

Um universo
inteiro
em pedaços
pra cada um
dos habitantes da terra

esse garoto me assusta

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Nos meus sonhos
existe um orvalho
que não seca com o sol

qualquer um invade
meu sonho
monta sua banca
vende seu peixe
quebra o gelo
cozinha o peixe
e me dá de comer
no meu sonho
não mando eu
não me culpem
senhoras
os homens do meu
sonho
entram sem pedir
por mais que eu reze
antes de dormir
por favor senhores,
vou à igreja e
canto louvores
mas a noite
quando meu anjo
dorme
(com tanto sedativo
é pena que não morre)
eles me saem do
lábio
eles me fogem dos
olhos
eles se banham no
umbigo
ele amigo,
ele inimigo,
eles correm
nos meus dedos
eles caem nas
minhas coxas
eles me negam
beijo
me roubam as roupas
frouxas
eles me mordem o
queixo
e vão fazer outra coisa
no sonho sinto
tanta dor
por um segundo
apenas, só
que tropeço em
homens
que vêm sem
bula
em cada esquina
de contra-indicação
e minha chance
é nula
de achar algum
em caixa lacrada
e ficar por perto
além da outra
passada
aí me alucinei
com tanta cor
tanta luz
todos
eles meus...
uma lhama
bem longe
do mar
celo
pra sentir
o trote lento que
me traz a manhã
a montanha desço
com calma
pois em breve,
tudo clareará
e se acordo
com um sorriso
senhores, juro que
é só pra não chorar

nos meus sonhos
existe um orvalho
que não seca com
o sol

quinta-feira, 15 de abril de 2010

20 incensos, delírio e pretensão

Acendi 20 incensos
e ví meu quarto se
decompor
um na janela fechada
abriu para a lua
o torpor
engraçado minhas roupas
no armário
todas fugindo para um
santuário
repetindo os mantras
com paz invejável
o guarda-roupas explodindo
de sua própria alma
me vinguei nos lençois
enfadados de talco
voando até o teto
vermelho
no alto
os pés da cama confusos
flutuando e gritando
aos surdos
socorro
fantasmas levitando seu corpo
as paredes vãs como
a estrutura social
tentando impedir
a dispersão natural
lá vai seu livro meu amor!
quando ví já era tarde
sorri, chupei com força com a boca
demente, louca
sem canudo não se chupa
a fortuna da china
escapou por cima
e foi pra cozinha
aquarela no braço
laço umbilical
o meu quarto vazou
com chico buarque
ditando o ritmo
parado do coração
da minha mãe para
o cômodo ao lado
todo asfixiado
afogado em meu quarto
e na boca de feijão, de paixão...
Com minha mochila foi o mundo
não o seu!
o de raimundo
de arthur e meu!
ferrolho da porta
sucumbe, desaba
desmancha, desarma
tranca tem cheiro de
presídio
a minha era zen
com cheiro de fruta
e ácido clorídrico
madeira defumada
queijo coalhado
o coração materno não está
sozinho,
com ele já rí mudo o do
vizinho
e lá se vai meu quarto
todo, pelo bairro dopado
de maconha e lodo
foi pipoqueiro, churrasqueiro
mafioso, traficante, vigia
transando um com outro
na guarita a tardezinha
submarine yellow, amarelo
ficou com cheiro e cor de inferno
já era demais
caso de vida ou morte
abri a boca e os olhos
bem forte, suguei todo
o mundo pro pulmão de volta
tranquei o quarto,
uns livros e o buarque no
útero inútil
guardei minha mãe no âpendice
bairro no intestino
aquarela no cérebro
circense
fechei a boca
inchada como um balão
dei um rasante
e peguei 6 incensos do chão
catorze joguei no vaso
e os seis ficaram na mão
agora pareço normal, mas não
sei que não devo submeter
o corpo à pressão
Eu tô tão cheia de coisa
e espinha
que na certa, explodiria
que ninguém saiba
mas sou uma arma química
se aquele louco soubesse
o quanto sou perigosa
se ele lembrasse do príncipe
se ele amasse a rosa
não se atreveria
com aqueles olhos minúsculos
a me moer os músculos
e me compactar lá dentro
da sua pupila
não tive saída, cerrou
as maxilas
se tivesse consciência
não o faria mais
tive que me espremer, tão
gigante lubrificada pelas glândulas
lacrimais
aposto que um pouco do
veneno ainda está nos
ductos
e que em algum de seus choros
abruptos
ainda pingo de suas lágrimas
se os tolos desconfiarem
vou jogar-me nua no rio
como se estivesse de molho
até sair o cheiro de incenso
e o vermelho do olho
mas se o outro cogitar sobre
meu suspirar ou sorrir
tragédia
gastarei 20, em média
vou trancá-lo em si
infestar o seu quarto
ele vai eclodir
quando vir o retrato
se converter em delírio
com seus olhos grandes
implorará por colírio
e terra firme
vai pensar em pó de pirlimpimpim
vai pensar em mim
todos os livros vai guardar nos testículos
o mundo inteiro em um pulmão
ou não, talvez eu o ame
e lhe deixe sofrer em paz
Ele que não tente ver
o que há depois da ameaça
não teria a menor graça.
tomara que niguém tente saber
se é vero ou mito
meu conto mórfico
seria catastrófico.

No pé do rio

Meus olhos no contratempo do rio
quando cega,
todos os botos pulam,
os jacarés dançam balé,
os pássaros pescam com varas

Quando em mim tudo acontece
o rio esmorece,
e só corre todo vazio...
queria pisar de leve
no pé do rio
pra ver se um peixe se
assusta e vem brilhar
na superfície

Ao acaso

O epitáfio programado
ao acaso,
por quem não sabia
do que tremia
a cidade de São Paulo
foi descartado
indigente
inclassificável
um lugar
onde eu
nunca
passei

Juro.

Peregrinação

Não tenho bagagem
meu nome só serviria
pra escovar meus próprios dentes
não serve
por mais que eu engullar
Nada feito
não levo bandeira,
não marco terra
não conheço os sertões
não bebi água-viva
caí da minha escada
não subi no murilo
não cheguei até pasárgada
e se cheguei,
não levo bandeira
morta, metade inexiste
viva, metade maneira
ainda não comi chiste
sodoma
gomorra
me recebera
expulsura
José, e agora?
Matei Caim.

quem fala o que quer

quando disse o que quis
ouviu[]
o silêncio tinir
como num tinido
seco de barriga vazia
ficou
e num ricochete
ele voltou
para o útero
de onde tinha
sido
expulso
com ares felizes
de maternidade

05 de Março de 2010

sábado, 10 de abril de 2010

Como eu quero que um poeta me ame**

** E me perdoe pela heresia

Elizeu, se fosse Zeus saberia que nem
tudo é como Zeus quer...
quem dera tu soubesse,
garoto do olho miúdo,
que não tem nada
nesse dicionário luso
que te ensine a verdade
e se tu me amasse e aceitasse
que isso é o meu amor
e esquecesse tudo que tua mãe
te ensinou
e fugisse comigo escondido na minha
blusa
e te bastasse meu riso, meu corpo,
meu verso e meu folêgo
e eu fosse tua única branca, louca, livre
e intrusa
eu seria tão tua
ficaríamos tão a sós
que tu ia cansar
seria tão bom se você amasse só a mim
Elizeu,
seria tão intenso se eu não tivesse
trancada num gineceu

Meu passo de pato

nessa, minhas veredas escuras,
nesse, meu passo de pato
dou uma,
como todo bom samaritano,
ajuda a quem não
encontra pedra
de tropeço alguma
no azedume, amargume
opilante
da erva de beira de estrada
no meio da placa sentada
sem esconder a nudez
segue linguagem e a que penas?

se não sei do que se trata
flauta
se não sei como se troca
fralda
se não sei do que se trota
salta
se não sei do que se trama
falta
se não sei como se traça
lauda
se não sei como se trilha
calma
se não sei como se traga
calda
se não sei como se trepa
em alma