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Porto Velho, Rondônia, Brazil
de repente sem ruído as unhas crescem os ossos esticam os dentes nascem o cabelo escurece os olhos aguçados a boca o peito o abdômen imutável a tumba confortável a tumba confortável a tumba só confortável só a tumba confortável

domingo, 9 de maio de 2010

Sem título

Quando criança ele percebeu que não gostava daquilo de estar tão solto no mundo. Não jogava bola, não pintava o desenho com força, bebia pouca água, evitava urinar. Certa vez se queimou na panela de pressão e sentiu tanta dor por ter movido a mão tão rápido que começou a trabalhar o controle dos impulsos. Transava mal e nunca ficava bem depois de gozar, com o tempo parou com isso. Seu martírio eram os espirros, tosses e soluços... Acabavam com ele. Porém a agonia das agonias ele não podia diminuir e vivia sempre com aquele incômodo, aquela fadiga, como se formigas subissem em suas pernas, um cisco perpétuo no seu olho, o inferno da Bíblia dentro dele... Todos aqueles movimentos das entranhas, as reações químicas nas células, os ácidos, as enzimas e o vilão, aquele músculo indiscreto, burro e agitado chamado coração. Já passava da hora de pará-lo, seria a chance dele viver em paz. Escolheu um rio calmo e silencioso, escolheu uma noite escura e contida em si mesma, uma noite que não invadisse poetas e nem passasse pela janela para embrulhar romântico algum, escolheu um canto sem memória e sem roupas entrou comedido e caminhou lento para o meio. Quando já não podia ficar em pé se deixou afundar e nunca o tinha incomodado tanto o barulho do coração quanto naquele silêncio glorioso. Afundou decidido, mas começou a se render a terríveis espasmos e a um grotesco motim dos orgãos nele anexos, seus membros quase atrofiados tinham agora uma vida que lhe dava náuseas. Ele frustrado percebeu que seu corpo iria desistir em breve e manteve sua postura honrosa de queixo alto, olhos soberbos e mandíbula cerrada. Até que uma mão rápida invadiu sua água e uma luz amarela cegou seus olhos, alguém chamou a polícia pra pegar o cara pelado que estava andando há 3 horas dentro de um laguinho perto da estrada.

2 comentários:

Sincroniaa disse...

Poxa.. parabéns, você tem muito talento, apesar da morbidez, dos esparmos de um coração partido... de diversos traços suicidas hehehe... apesar de toda dor... não há medo em seu ser...


Elton Costa

Sincroniaa disse...

ahhh...agradeça à um tal de Elizeu Braga... indicação ou imposição para o poste...