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Porto Velho, Rondônia, Brazil
de repente sem ruído as unhas crescem os ossos esticam os dentes nascem o cabelo escurece os olhos aguçados a boca o peito o abdômen imutável a tumba confortável a tumba confortável a tumba só confortável só a tumba confortável

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

O gozo e a morte

"O gozo é como a morte
Você vive, vive,
vive, vive, vive
e então morre."

Morrendo lento e brusco
com o mexer dos quadris
Adormecendo as pernas
e eriçando os pelos pela última vez

O ar sai lento e forte
dos pulmões, percorrendo
a boca que se torce minúscula,
imensa
os olhos se fecham lentos e intensos
e o corpo que há pouco se contraia
perde os movimentos

você se vê no escuro, apura a visão
e busca o paraíso, ele se foi
com a última convulsão
com o último riso.

mortificante*

O momento mais radiante/mortificante
foi quando você submerso
me apreciava
como ao fugu
e era você, era oculto,
tentador
com seus trejeitos,
seu palor
obsceno como só você
e a lua podem ser,
me apunhalava
de olhos fechados
eu com punhos frágeis, cerrados,
prestes a desistir daquele
corpo que não mais me acomodava
transbordava aliás,
ví seus olhos e boca
iguais
emergindo das minhas pernas
e mesmo diante da cratera
onde eu há muito tremia
e do apelo que minhas artérias
te faziam
não fui poupada
a terra do chão que eu
não pisava se decompôs
e eu deitada não tentei resistir
caí, caí, caí
meu rosto quente,
minhas mãos desfalecidas
nas correntes
fui tomada pelo eco da sentença
meu corpo relaxou derradeiro
sorri sem sentir
paz, medo ou qualquer
paladar
sorri executada,
morri te ouvindo
amar

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

fui amor, fria

Passei um tempo tentando lutar com meu riso
e o coração mais agressivo
e a voz desafiadora
e os fios de esperança que minha
frieza congelou
eram seus
e pareciam romper
eu dizia:
_ Não sou fria!
e me ria, talvez possessa
Quando seus laços frágeis
retiraram da bagagem
todos aqueles documentos
e os deu, os deu outra vez
aquilo já não era meu
eu não os quis,
eram secundários
atestados, certidões
obituários, ofícios
notas, prontuários
registrados, assinados
autenticados
a marca era minha,
mas era a sua poesia
que você rasgava
eu fiquei inerte a sorrir
você se desfazendo das provas
dizia que eu tenho sorte
por não ser processada,
falsidade ideológica,
emoção adulterada,
mentiras, má fé...
tudo documentado
e a lama queimava toda a tinta
tornava a minha verdade
em mentira
mas meu sorriso ainda tilinta
ainda hoje brilha
e te irrita
e eu não posso
lembrar do gosto do teu beijo
[desespero bem dentro]
mas eternizei o maldito
daquele momento

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sequestro*

Eu fugi com você.
Você ainda não sabe,
foi numa tarde...
Coube perfeitamente
na minha mochila.

sábado, 9 de janeiro de 2010

estou*

eu fico
fico
fico
fico
fico
não posso
não
ficar
espero uma
outra
uma
outra
uma
outra
letra
me encontrar
Não tenho dúvidas
de que
fico
só de que estou

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

de repente

de repente
sem ruído
as unhas
crescem
os ossos
esticam
os dentes
nascem
o cabelo
escurece
os olhos
aguçados
a boca
o peito
o abdômen
imutável
a tumba
confortável
a tumba
confortável
a tumba

confortável

a tumba
confortável

Badalador*

O que eu faço
enquanto em branco
passo
sabendo que o tempo
vai, vem de mim zombar?
se sei que não é
eterno
e nem tão angustiante
o que me ma-ta
O que faço
se a razão me
espanta
com
tanta
realidade?
Se fujo e me
escondo
ela me acha
e me agarra
arranca minhas
roupas
e me acorrenta
em meio
a praça

Não tenho um guia
que não esteja se
sentindo só...
não há em mim
nenhuma zona
de conforto
estou nua e louca
e ainda me escondo
atrás de um relógio
e do sino badala-dor
tempo psicológico...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Eu saio

Se eu não escrevo
ninguém fica sabendo
se ninguém ficar sabendo
só eu saio
perdendo

Se eu não escrevo
sabendo ninguém fica
se ninguém ficar sabendo
eu
saio
perdendo
Juro que ninguém
ficou sabendo
não escrevi
saí perdendo
mas
ninguém
ficou
sabendo
vitória
não fiquei sabendo
pois ninguém
escreveu
só eu saí
ganhando
injustiça
se ninguém escreve
quem ganha perde?!
Ah,
se
eu
soubesse...
Teria
ficado
perdido
ganhado

setecentos e dezenove*

O
teu nome é
todo limpo,
todos claros
ralos
e luminosos

não há trevas
e são 719
setecentos e
dezenove
sete centenas
uma dezena
e nove unidades
de brilho

jesus tinha
muitos nomes,
muitos nomes
mas os seus
tomaram
toda a pureza

Sem essa
de jesus...
setecentos e
dezenoves e
sorves
a escuridão

Setecentos e
vinte então?
Não!
não faltou em
ti contradição...

um deles se esconde
no ombro do raio
que fica de costas
pro sol

é um nome pardo,
pintado
malhado
bastardo
desgarrado

nome caído
expulso
chutado
banido
impuro

luciferiano
bacteriano
baratiano
fobia

setecentos e
dezenove
719 nomes
e uma bolha negra
seduz
sete centenas,
uma dezena
nove unidades
de luz!

todos claros
como o sol
leves como
o ar
todos flores
borboletas

o que há com esse
nome
legível
ininteligível
sombrio
ébrio
sozinho?

o que houve
com o irmão
mais velho?
se escondeu
no ombro do raio
ou no
aurélio?

setecentos e
dezenove,
luminescência.
essência malediscência.
paciência!
nome de poeta
se esconde
nas reticências...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Eram 2*

Eram 2
Um enfrentou o mar,
um alternava entre os mundos,
um tinha Sol,
um tinha gelo,
um tinha a idade das pedras,
um não tinha idade,
nos dois um poço do olho ao pescoço,
um jazia,
um dançava no jazigo,
um comia,
mas um engolia,
um chovia,
um gemia,
um cantava,
um ria,
um sabia,
um amava,
simultâneo.

Indestrutível*

Assim como o Sol
não consome a sí mesmo
e nem a peçonha fere o
seu dono,
também eu não padeço
com o amor
que há em mim
antes morrer com o que vem
ou não de ti.

Aceita?*

Queria te levar
em uma serra
onde ví a lua
certa vez,
há 9 anos...
fantástica, ela
entre nuvens
eu entre elas.
Nós dois entre elas?
Aceita?

Con(a)spiração*

Aquele monte de terra
sabia,
conspirava
com o vento que passou
pra me insultar,
sussurrava...
quando me viu de frente
a terra entulhada
sorriu sem boca
e balançou de leve
seu maldito pó.
o monte de terra desdenhou,
irônico, pretencioso,
pois sabia.
Até ele já sabia que eu
não existia.

Cores*

Aqui, tudo tem cor
de doença
e eu prefiro a cor
da sua morte.
ai que saudade
de ver
seu cadáver
se despedaçando
por aí...

Janeiro

Janeiro é um mês esquisito,
com cheiro de zero,
não é como novo,
é fadiga de vida.
é como se dezembro
fosse a festa e janeiro
a ressaca.
Nunca gostei de
janeiro

Eu no meio*

Você é adorado!
sem eu no meio
Você é adorado!

Morfologia?*

Você sabe porque
eu suspiro sempre?
é que quando você
diz "intertextualidade"
ou "queijo"
esqueço a morfologia
e ouço um soneto,
canção, poema,
poesia

O inferno*

"eu no inferno e você me mandando flores..."

O inferno é aqui fora e não aí com você.
Essas flores eu colhi de ti, quando por algumas horas pude fugir.

desejo*

Antes eu desejava molduras, travessuras, traços não desejados, profundidades antes nunca alcançadas.
Hoje desejo nada...
e como o desejo...

Febre*

"o que eu sinto por ti é febre."

Malditos sejam os
antitérmicos
vetem o marketting
destes vilões!
pois essa febre me
enobrece...
Não que eu mereça,
mas deus,
fez teste pra pai?

Ingênuo*

Seu cheiro me acha
me entorpece
então ele rí de mim,
gargalha inocente,
incoerente
com meus olhos
coitados, dementes,
pedintes insistentes
do que foi sem ouvir.

Veneno*

Teus lábios são finos.
em meio ao
que presenciei não os via
assim.
mas agora penso bem,
desenho o teu rosto e
esmiuço o arpejo
o relampejo
a fineza louca do teu
beijo
percebo que não te
senti com a boca,
nem tampouco
com a minhalma
pouca...
eu te senti veneno,
morrendo, pasme, sem
ferir o lábio

Eu devorando*

Eu devorando como
uma aborígene,
com minhas mãos
grandes de dedos finos,
parecia selvagem
e sedenta,
eu via de perto
sem antíteses,
sem nenhum paradoxo,
veja só...
Falo doce e angelical (mente)...
e não enxergo
contradição,
fundiu-se
perfeitamente com a fusão do instante,
com a sensação da fusão.

Pistas*

"vem pra mim, pra nós e nossos nós..."

Vou, pois vou a sós,
me soltar nos (em) nós
Te soltar a voz,
sem nenhuma dor
te ouvir dizer:
"Ai, amor!"

Saciedade*

"Vem beber em mim..."

Sabe qual é o extremo da
saciedade?
Por meio segundo eu pensei
saber
E logo depois do
momento
penso ter conhecido o
extremo oposto
Esse depois se prolonga, eu
acho e perco o gosto.
Desejo?
Sinta o calor do
meu rosto

Eram 2*

Eram 2
Um enfrentou o mar,
um alternava entre os mundos,
um tinha Sol,
um tinha gelo,
um tinha a idade das pedras,
um não tinha idade,
nos dois um poço do olho ao pescoço,
um jazia,
um dançava no jazigo,
um comia,
mas um engolia,
um chovia,
um gemia,
um cantava,
um ria,
um sabia,
um amava,
simultâneo.