Minha foto
Porto Velho, Rondônia, Brazil
de repente sem ruído as unhas crescem os ossos esticam os dentes nascem o cabelo escurece os olhos aguçados a boca o peito o abdômen imutável a tumba confortável a tumba confortável a tumba só confortável só a tumba confortável

quinta-feira, 15 de abril de 2010

20 incensos, delírio e pretensão

Acendi 20 incensos
e ví meu quarto se
decompor
um na janela fechada
abriu para a lua
o torpor
engraçado minhas roupas
no armário
todas fugindo para um
santuário
repetindo os mantras
com paz invejável
o guarda-roupas explodindo
de sua própria alma
me vinguei nos lençois
enfadados de talco
voando até o teto
vermelho
no alto
os pés da cama confusos
flutuando e gritando
aos surdos
socorro
fantasmas levitando seu corpo
as paredes vãs como
a estrutura social
tentando impedir
a dispersão natural
lá vai seu livro meu amor!
quando ví já era tarde
sorri, chupei com força com a boca
demente, louca
sem canudo não se chupa
a fortuna da china
escapou por cima
e foi pra cozinha
aquarela no braço
laço umbilical
o meu quarto vazou
com chico buarque
ditando o ritmo
parado do coração
da minha mãe para
o cômodo ao lado
todo asfixiado
afogado em meu quarto
e na boca de feijão, de paixão...
Com minha mochila foi o mundo
não o seu!
o de raimundo
de arthur e meu!
ferrolho da porta
sucumbe, desaba
desmancha, desarma
tranca tem cheiro de
presídio
a minha era zen
com cheiro de fruta
e ácido clorídrico
madeira defumada
queijo coalhado
o coração materno não está
sozinho,
com ele já rí mudo o do
vizinho
e lá se vai meu quarto
todo, pelo bairro dopado
de maconha e lodo
foi pipoqueiro, churrasqueiro
mafioso, traficante, vigia
transando um com outro
na guarita a tardezinha
submarine yellow, amarelo
ficou com cheiro e cor de inferno
já era demais
caso de vida ou morte
abri a boca e os olhos
bem forte, suguei todo
o mundo pro pulmão de volta
tranquei o quarto,
uns livros e o buarque no
útero inútil
guardei minha mãe no âpendice
bairro no intestino
aquarela no cérebro
circense
fechei a boca
inchada como um balão
dei um rasante
e peguei 6 incensos do chão
catorze joguei no vaso
e os seis ficaram na mão
agora pareço normal, mas não
sei que não devo submeter
o corpo à pressão
Eu tô tão cheia de coisa
e espinha
que na certa, explodiria
que ninguém saiba
mas sou uma arma química
se aquele louco soubesse
o quanto sou perigosa
se ele lembrasse do príncipe
se ele amasse a rosa
não se atreveria
com aqueles olhos minúsculos
a me moer os músculos
e me compactar lá dentro
da sua pupila
não tive saída, cerrou
as maxilas
se tivesse consciência
não o faria mais
tive que me espremer, tão
gigante lubrificada pelas glândulas
lacrimais
aposto que um pouco do
veneno ainda está nos
ductos
e que em algum de seus choros
abruptos
ainda pingo de suas lágrimas
se os tolos desconfiarem
vou jogar-me nua no rio
como se estivesse de molho
até sair o cheiro de incenso
e o vermelho do olho
mas se o outro cogitar sobre
meu suspirar ou sorrir
tragédia
gastarei 20, em média
vou trancá-lo em si
infestar o seu quarto
ele vai eclodir
quando vir o retrato
se converter em delírio
com seus olhos grandes
implorará por colírio
e terra firme
vai pensar em pó de pirlimpimpim
vai pensar em mim
todos os livros vai guardar nos testículos
o mundo inteiro em um pulmão
ou não, talvez eu o ame
e lhe deixe sofrer em paz
Ele que não tente ver
o que há depois da ameaça
não teria a menor graça.
tomara que niguém tente saber
se é vero ou mito
meu conto mórfico
seria catastrófico.

2 comentários:

Meu tudo e/ou nada disse...

se amasse a rosa...
que epifania estrondooosa...
não se mate, branca... o amor é isso.

Meu tudo e/ou nada disse...

se amasse a rosa...
que epifania estrondooosa...
não se mate, branca... o amor é isso.