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Porto Velho, Rondônia, Brazil
de repente sem ruído as unhas crescem os ossos esticam os dentes nascem o cabelo escurece os olhos aguçados a boca o peito o abdômen imutável a tumba confortável a tumba confortável a tumba só confortável só a tumba confortável

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Filha de Deus

Deus me fez e
morreu no parto
saí de barro ressecado
repleto de luz
anjo enlutado
morreu o céu
como morrem aves
no sol meu barro
rachado revelou
meu eu bastardo
que se apossou
da minha alma
e a fundiu com
o pecado
tenho frestas pelo
corpo,
onde os homens entram
choram e gozam
eles nas
minhas falhas
cospem, lambem
engolem, molham
e lamentam minhas
falhas,
ah, menina! porque
falhas?
sou terra e
me degrado
com cada sopro
tornado
morto
meu reino
decaído, onde
não reino
mais
seu rei, meu pai
morreu amigo
a míngua
morro
de um frade
tolo, corro
o último santo
enterrou Deus
no meu canto
podre, fede
com divina grosseria
incesto e necrofilia
e me taco no talco
negro do tabaco
pra aliviar minha
sina com baco
destruo a trina
o templo e o
caco ponho num
saco
há de existir em
Roma algum buraco, que
revenda um naco
ensanguentado
da carne ou
gota do sangue
de cristo de
fato... há um buraco.
alheios as minhas
atividades paralelas
e ao meu santo
comércio de artigos
raros
riem comigo de
mim nas calçadas
nas camas, nas
rampas, nas moitas
molhadas de orvalho
e suor
gente que cheira
a gente
uns com letras
outros números
de cor
gente que aflora e
que canta, recita e
levanta um vestido
sem dó
e tem quem me olhe
os olhos e diga
que olhos os teus,
tão secos
ateus
digo quase com medo
quê isso minha gente
sou filha de Deus!

Dói mesmo

Eu nem posso respirar
fundo
porque meu peito andou
dançando frevo
dói mesmo
samba e frevo
dói mesmo

Festa de bicho é bonita
todo bicho diz que acredita
no frevo
eu fervo
bicho iludido e teso

Dá medo o sambista
desencantar
e deixar o povo na roda
em silêncio
sem frevo
meu peito respira medo

Eu nem posso respirar
fundo
porque meu peito andou
dançando frevo
dói mesmo
samba e frevo
dói mesmo

Ópera agravante

(Joice Brandão e Elizeu Braga)

Pseudo donzela:

Eu tenho que aprender a rezar
eu tenho que comprar um crucifixo
me banhar em água benta
me benzer em frente a catedral

Eu tenho que me cuidar
ou não poderei andar numa boa
nessa cidade tão cheia
de seres demoníacos

Entendeu?


Pseudo Troll:

Eu tenho que aprender arrancar
cabeças de meninas virgens
pegar gosto e por fogo pela venta
saborear carne de chacal

Talvez eu seja santo demais
digno de não habitar
essa cidade tão cheia
de seres demoníacos

Já entendi.

Se você ligar
talvez eu espere um pouco
pra minh'alma barganhar

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Duas pedras

Um passeio no campo
entre anseios de ancião,
vá calçado, pela calçada
de pedrinhas polidas
que está no meio da estrada
volta-se menor do campo
sempre vai e volta
e não volta.
foi o pequeno com o
peso do seu clã
garimpando a terra
com os pés de fã
da terra, dos sítios
das cercas de seu clã
fez subir cheiro de mato
do buraco, flores do cacto
seus cabelos negros
por decreto, roupas reais
e seu trejeito de verso
dormiu
acordou
pedra




Outro dia na caverna
entre avisos de vá em frente
na altura da savana
rasteje rente, não ame
o universinho das folhas
é pagão, é pastoril
é pequeno
só são coisas
vai a forasteira com o
mapa de si mesma
rasgando o céu
com unhas de titã
o céu da terra, dos sítios
das cercas de um clã
sentiu um cheiro de mato
descansa no buraco, flor do cacto
seus olhos velhos
foco incerto, vestes anacrônicas
e seu trejeito inverso
dormiu
acordou
pedra

domingo, 30 de maio de 2010

cápsula do tempo no espaço

Quando formos à Paris
vou te levar num lugar escondido
que eu ainda não conheço
mas tenho certeza que existe
daqui pra lá
algumas emoções e ideias vão mudar
estaremos menores em nós mesmos
esse será o dia de expandir
de falar do cabelo alheio
daquele olhar telepático
quando a música toca os dois
daquele sorriso estupefado
quando o poema é os dois
das mãos contrastantes
balançando
a passos largos e saltitantes
quem vir aquelas mãos
não vai saber o que se passa
mas a explicação virá de graça
no abraço realizado de Arthur comigo
todos irão saber
daquele riso
assexual e bandido
que aqueles dois são o que há de maior
amigos
e vão fazer odes à nossa
gargalhada
e vão rimar nossa cor
com brilho
e vão amar nossa boca
afrancesada
e vão blasfemar do nosso
verso ambíguo
nós cantaremos abraçados
na rua
Kid Abelha, Buarque e Titãs
sem notar tom, sem éros, ágape ou fraterno
você vai apagar meu cigarro
e eu vou riscar seu caderno

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pedra e vento

A pedra sôlta da rua
solta alegria sôlta
solta a pedra da rua
salta o dente da boca

Da rua da Pedra Branca
sôlta a pedra de neve
solta do pé e balança
salta unha da pele

A rua de pedra sem dono
solta o mundo de sí
sôlta em total abandono
salta bem longe dalí

A rua da Pedra do Frade
solta água em gole
salta logo da pedra
sôlta essa pedra é mole

Carousels

Bem vindo à cidade
belo circo...
Todas as virgens são suas
espero que nos perdoem se
já estão um pouco usadas
vocês fiquem a vontade
pra cantorias e danças
podem rir alto nas ruas
desertas da madrugada
todos os bares lhes servirão
senhores donos do circo
comam onde, quando
e quem quiserem os seus bichos
Podem invadir os enterros e velórios
façam o espatáculo onde couber
não reparem, prezados palhaços,
o tom de sépia e de horror
nos bordéis e nas igrejas
há muito tudo é assim...
os movimentos são lentos mesmo
e o vento é sempre esse bafo
os cavalos estão a esmo
pouca sombra, sempre mormaço
fiquem tranquilos
ninguém abre os olhos depois
do pôr-do-sol
todos estão felizes na vila
as crianças estão mudas
mas já organizaram a fila
que bom, homens do circo
que trouxeram pipoca e
algodão doce e macio
vocês trouxeram o seu pra cá
isso fez pairar um clima tão contente
e todos, com garras e dentes
lhes esperam ver no picadeiro
o céu na cidade... fome pagã
ruivas, gatos e anomalias também vieram
atenção! senhoras e senhores
(que rufem os tambores...)
Peguem suas maças proibidas
começou o circo dos horrores!

domingo, 9 de maio de 2010

Sem título

Quando criança ele percebeu que não gostava daquilo de estar tão solto no mundo. Não jogava bola, não pintava o desenho com força, bebia pouca água, evitava urinar. Certa vez se queimou na panela de pressão e sentiu tanta dor por ter movido a mão tão rápido que começou a trabalhar o controle dos impulsos. Transava mal e nunca ficava bem depois de gozar, com o tempo parou com isso. Seu martírio eram os espirros, tosses e soluços... Acabavam com ele. Porém a agonia das agonias ele não podia diminuir e vivia sempre com aquele incômodo, aquela fadiga, como se formigas subissem em suas pernas, um cisco perpétuo no seu olho, o inferno da Bíblia dentro dele... Todos aqueles movimentos das entranhas, as reações químicas nas células, os ácidos, as enzimas e o vilão, aquele músculo indiscreto, burro e agitado chamado coração. Já passava da hora de pará-lo, seria a chance dele viver em paz. Escolheu um rio calmo e silencioso, escolheu uma noite escura e contida em si mesma, uma noite que não invadisse poetas e nem passasse pela janela para embrulhar romântico algum, escolheu um canto sem memória e sem roupas entrou comedido e caminhou lento para o meio. Quando já não podia ficar em pé se deixou afundar e nunca o tinha incomodado tanto o barulho do coração quanto naquele silêncio glorioso. Afundou decidido, mas começou a se render a terríveis espasmos e a um grotesco motim dos orgãos nele anexos, seus membros quase atrofiados tinham agora uma vida que lhe dava náuseas. Ele frustrado percebeu que seu corpo iria desistir em breve e manteve sua postura honrosa de queixo alto, olhos soberbos e mandíbula cerrada. Até que uma mão rápida invadiu sua água e uma luz amarela cegou seus olhos, alguém chamou a polícia pra pegar o cara pelado que estava andando há 3 horas dentro de um laguinho perto da estrada.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Não blefe mais

não blefe mais
se não te abro
meu leque de ás

terça-feira, 27 de abril de 2010

porto ou aeroporto?

você é tudo, uma
parte do meu todo
você é meu, fuga
da singularidade, corro
eu te amo, entre
os dentes, rio
e morro

se você que gosta de
definir tudo
no seu dicionário luso
achar que é medo,
terá descoberto meu
segredo
mas se mudar de
idéia e classificar como
frieza
poderá por as cartas da
culpa sobre a mesa

você não se importa,
comigo
colhendo folhas na
sua floresta
você me escreveu na
testa
comunista!

pra quem conhece a
correnteza do Madeira
e a poesia do Ferreira
dou o direito,
bem o que não preciso
dar
de fazer da própria
essência o que bem
achar
e dou meu sorriso mole,
toma! pediu em gole.

no fim, meu amor
seremos eu e o mundo
e vocês dois e nós três
lá você vai pensar
que chegou apenas
o tempo de colher
calma, minha testa vai dizer

e quando um de nós
dois for atropelado
alguém vai ter que
esperar o vôo com
um caixão atrelado
alguém vai ter que
chorar pela última
ofensa
e alguém vai ter que
se fingir de morto
ou pode ser no porto...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Susto

pedi às crianças que
desenhassem um herói
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua

pedi às crianças que
desenhassem quem eram
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua
pedi às crianças que
desenhassem a desigualdade social
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua
então, de propósito, curiosa,
pedi às crianças
que desenhassem
o mundo perfeito
o objetivo maior
todas desenharam
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua
ele desenhou
uma
casa
uma
árvore
um
sol
uma
lua

outra
casa
outra
árvore
outro
sol
outra
lua

várias
casas
várias
árvores
cada uma com seu
sol
cada uma com sua
lua

Um universo
inteiro
em pedaços
pra cada um
dos habitantes da terra

esse garoto me assusta

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Nos meus sonhos
existe um orvalho
que não seca com o sol

qualquer um invade
meu sonho
monta sua banca
vende seu peixe
quebra o gelo
cozinha o peixe
e me dá de comer
no meu sonho
não mando eu
não me culpem
senhoras
os homens do meu
sonho
entram sem pedir
por mais que eu reze
antes de dormir
por favor senhores,
vou à igreja e
canto louvores
mas a noite
quando meu anjo
dorme
(com tanto sedativo
é pena que não morre)
eles me saem do
lábio
eles me fogem dos
olhos
eles se banham no
umbigo
ele amigo,
ele inimigo,
eles correm
nos meus dedos
eles caem nas
minhas coxas
eles me negam
beijo
me roubam as roupas
frouxas
eles me mordem o
queixo
e vão fazer outra coisa
no sonho sinto
tanta dor
por um segundo
apenas, só
que tropeço em
homens
que vêm sem
bula
em cada esquina
de contra-indicação
e minha chance
é nula
de achar algum
em caixa lacrada
e ficar por perto
além da outra
passada
aí me alucinei
com tanta cor
tanta luz
todos
eles meus...
uma lhama
bem longe
do mar
celo
pra sentir
o trote lento que
me traz a manhã
a montanha desço
com calma
pois em breve,
tudo clareará
e se acordo
com um sorriso
senhores, juro que
é só pra não chorar

nos meus sonhos
existe um orvalho
que não seca com
o sol

quinta-feira, 15 de abril de 2010

20 incensos, delírio e pretensão

Acendi 20 incensos
e ví meu quarto se
decompor
um na janela fechada
abriu para a lua
o torpor
engraçado minhas roupas
no armário
todas fugindo para um
santuário
repetindo os mantras
com paz invejável
o guarda-roupas explodindo
de sua própria alma
me vinguei nos lençois
enfadados de talco
voando até o teto
vermelho
no alto
os pés da cama confusos
flutuando e gritando
aos surdos
socorro
fantasmas levitando seu corpo
as paredes vãs como
a estrutura social
tentando impedir
a dispersão natural
lá vai seu livro meu amor!
quando ví já era tarde
sorri, chupei com força com a boca
demente, louca
sem canudo não se chupa
a fortuna da china
escapou por cima
e foi pra cozinha
aquarela no braço
laço umbilical
o meu quarto vazou
com chico buarque
ditando o ritmo
parado do coração
da minha mãe para
o cômodo ao lado
todo asfixiado
afogado em meu quarto
e na boca de feijão, de paixão...
Com minha mochila foi o mundo
não o seu!
o de raimundo
de arthur e meu!
ferrolho da porta
sucumbe, desaba
desmancha, desarma
tranca tem cheiro de
presídio
a minha era zen
com cheiro de fruta
e ácido clorídrico
madeira defumada
queijo coalhado
o coração materno não está
sozinho,
com ele já rí mudo o do
vizinho
e lá se vai meu quarto
todo, pelo bairro dopado
de maconha e lodo
foi pipoqueiro, churrasqueiro
mafioso, traficante, vigia
transando um com outro
na guarita a tardezinha
submarine yellow, amarelo
ficou com cheiro e cor de inferno
já era demais
caso de vida ou morte
abri a boca e os olhos
bem forte, suguei todo
o mundo pro pulmão de volta
tranquei o quarto,
uns livros e o buarque no
útero inútil
guardei minha mãe no âpendice
bairro no intestino
aquarela no cérebro
circense
fechei a boca
inchada como um balão
dei um rasante
e peguei 6 incensos do chão
catorze joguei no vaso
e os seis ficaram na mão
agora pareço normal, mas não
sei que não devo submeter
o corpo à pressão
Eu tô tão cheia de coisa
e espinha
que na certa, explodiria
que ninguém saiba
mas sou uma arma química
se aquele louco soubesse
o quanto sou perigosa
se ele lembrasse do príncipe
se ele amasse a rosa
não se atreveria
com aqueles olhos minúsculos
a me moer os músculos
e me compactar lá dentro
da sua pupila
não tive saída, cerrou
as maxilas
se tivesse consciência
não o faria mais
tive que me espremer, tão
gigante lubrificada pelas glândulas
lacrimais
aposto que um pouco do
veneno ainda está nos
ductos
e que em algum de seus choros
abruptos
ainda pingo de suas lágrimas
se os tolos desconfiarem
vou jogar-me nua no rio
como se estivesse de molho
até sair o cheiro de incenso
e o vermelho do olho
mas se o outro cogitar sobre
meu suspirar ou sorrir
tragédia
gastarei 20, em média
vou trancá-lo em si
infestar o seu quarto
ele vai eclodir
quando vir o retrato
se converter em delírio
com seus olhos grandes
implorará por colírio
e terra firme
vai pensar em pó de pirlimpimpim
vai pensar em mim
todos os livros vai guardar nos testículos
o mundo inteiro em um pulmão
ou não, talvez eu o ame
e lhe deixe sofrer em paz
Ele que não tente ver
o que há depois da ameaça
não teria a menor graça.
tomara que niguém tente saber
se é vero ou mito
meu conto mórfico
seria catastrófico.

No pé do rio

Meus olhos no contratempo do rio
quando cega,
todos os botos pulam,
os jacarés dançam balé,
os pássaros pescam com varas

Quando em mim tudo acontece
o rio esmorece,
e só corre todo vazio...
queria pisar de leve
no pé do rio
pra ver se um peixe se
assusta e vem brilhar
na superfície

Ao acaso

O epitáfio programado
ao acaso,
por quem não sabia
do que tremia
a cidade de São Paulo
foi descartado
indigente
inclassificável
um lugar
onde eu
nunca
passei

Juro.

Peregrinação

Não tenho bagagem
meu nome só serviria
pra escovar meus próprios dentes
não serve
por mais que eu engullar
Nada feito
não levo bandeira,
não marco terra
não conheço os sertões
não bebi água-viva
caí da minha escada
não subi no murilo
não cheguei até pasárgada
e se cheguei,
não levo bandeira
morta, metade inexiste
viva, metade maneira
ainda não comi chiste
sodoma
gomorra
me recebera
expulsura
José, e agora?
Matei Caim.

quem fala o que quer

quando disse o que quis
ouviu[]
o silêncio tinir
como num tinido
seco de barriga vazia
ficou
e num ricochete
ele voltou
para o útero
de onde tinha
sido
expulso
com ares felizes
de maternidade

05 de Março de 2010

sábado, 10 de abril de 2010

Como eu quero que um poeta me ame**

** E me perdoe pela heresia

Elizeu, se fosse Zeus saberia que nem
tudo é como Zeus quer...
quem dera tu soubesse,
garoto do olho miúdo,
que não tem nada
nesse dicionário luso
que te ensine a verdade
e se tu me amasse e aceitasse
que isso é o meu amor
e esquecesse tudo que tua mãe
te ensinou
e fugisse comigo escondido na minha
blusa
e te bastasse meu riso, meu corpo,
meu verso e meu folêgo
e eu fosse tua única branca, louca, livre
e intrusa
eu seria tão tua
ficaríamos tão a sós
que tu ia cansar
seria tão bom se você amasse só a mim
Elizeu,
seria tão intenso se eu não tivesse
trancada num gineceu

Meu passo de pato

nessa, minhas veredas escuras,
nesse, meu passo de pato
dou uma,
como todo bom samaritano,
ajuda a quem não
encontra pedra
de tropeço alguma
no azedume, amargume
opilante
da erva de beira de estrada
no meio da placa sentada
sem esconder a nudez
segue linguagem e a que penas?

se não sei do que se trata
flauta
se não sei como se troca
fralda
se não sei do que se trota
salta
se não sei do que se trama
falta
se não sei como se traça
lauda
se não sei como se trilha
calma
se não sei como se traga
calda
se não sei como se trepa
em alma

quarta-feira, 24 de março de 2010

tempos

o tempo não vai me
deixar passar
o tempo não me deixará
aprender
o tempo vai me gastar
o tempo vai me morrer

segunda-feira, 1 de março de 2010

Duarte...

Diz aí!
Como é estar dentro
de mim?
Há um tempo não sei
há um tempo saí.
Passagem obstruída,
labirinto,
estou possuída
repleta de tecidos
embebidos em éter
são só meus tecidos
fazenda leve...
como é?
é assim tão breve?
me leve pro pior sentido,
a pior interpretação...
não há escrúpulo, lembra?
me leva,
não pela mão,
pelo riso
não há sentido.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Servo

sabe aquela coisa
de deixar
o poemadurecer?
é hipocriesia
ele hai kai
e apodrece
no solo,
a realidade
perversa
a poética

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

O gozo e a morte

"O gozo é como a morte
Você vive, vive,
vive, vive, vive
e então morre."

Morrendo lento e brusco
com o mexer dos quadris
Adormecendo as pernas
e eriçando os pelos pela última vez

O ar sai lento e forte
dos pulmões, percorrendo
a boca que se torce minúscula,
imensa
os olhos se fecham lentos e intensos
e o corpo que há pouco se contraia
perde os movimentos

você se vê no escuro, apura a visão
e busca o paraíso, ele se foi
com a última convulsão
com o último riso.

mortificante*

O momento mais radiante/mortificante
foi quando você submerso
me apreciava
como ao fugu
e era você, era oculto,
tentador
com seus trejeitos,
seu palor
obsceno como só você
e a lua podem ser,
me apunhalava
de olhos fechados
eu com punhos frágeis, cerrados,
prestes a desistir daquele
corpo que não mais me acomodava
transbordava aliás,
ví seus olhos e boca
iguais
emergindo das minhas pernas
e mesmo diante da cratera
onde eu há muito tremia
e do apelo que minhas artérias
te faziam
não fui poupada
a terra do chão que eu
não pisava se decompôs
e eu deitada não tentei resistir
caí, caí, caí
meu rosto quente,
minhas mãos desfalecidas
nas correntes
fui tomada pelo eco da sentença
meu corpo relaxou derradeiro
sorri sem sentir
paz, medo ou qualquer
paladar
sorri executada,
morri te ouvindo
amar

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

fui amor, fria

Passei um tempo tentando lutar com meu riso
e o coração mais agressivo
e a voz desafiadora
e os fios de esperança que minha
frieza congelou
eram seus
e pareciam romper
eu dizia:
_ Não sou fria!
e me ria, talvez possessa
Quando seus laços frágeis
retiraram da bagagem
todos aqueles documentos
e os deu, os deu outra vez
aquilo já não era meu
eu não os quis,
eram secundários
atestados, certidões
obituários, ofícios
notas, prontuários
registrados, assinados
autenticados
a marca era minha,
mas era a sua poesia
que você rasgava
eu fiquei inerte a sorrir
você se desfazendo das provas
dizia que eu tenho sorte
por não ser processada,
falsidade ideológica,
emoção adulterada,
mentiras, má fé...
tudo documentado
e a lama queimava toda a tinta
tornava a minha verdade
em mentira
mas meu sorriso ainda tilinta
ainda hoje brilha
e te irrita
e eu não posso
lembrar do gosto do teu beijo
[desespero bem dentro]
mas eternizei o maldito
daquele momento

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sequestro*

Eu fugi com você.
Você ainda não sabe,
foi numa tarde...
Coube perfeitamente
na minha mochila.

sábado, 9 de janeiro de 2010

estou*

eu fico
fico
fico
fico
fico
não posso
não
ficar
espero uma
outra
uma
outra
uma
outra
letra
me encontrar
Não tenho dúvidas
de que
fico
só de que estou

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

de repente

de repente
sem ruído
as unhas
crescem
os ossos
esticam
os dentes
nascem
o cabelo
escurece
os olhos
aguçados
a boca
o peito
o abdômen
imutável
a tumba
confortável
a tumba
confortável
a tumba

confortável

a tumba
confortável

Badalador*

O que eu faço
enquanto em branco
passo
sabendo que o tempo
vai, vem de mim zombar?
se sei que não é
eterno
e nem tão angustiante
o que me ma-ta
O que faço
se a razão me
espanta
com
tanta
realidade?
Se fujo e me
escondo
ela me acha
e me agarra
arranca minhas
roupas
e me acorrenta
em meio
a praça

Não tenho um guia
que não esteja se
sentindo só...
não há em mim
nenhuma zona
de conforto
estou nua e louca
e ainda me escondo
atrás de um relógio
e do sino badala-dor
tempo psicológico...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Eu saio

Se eu não escrevo
ninguém fica sabendo
se ninguém ficar sabendo
só eu saio
perdendo

Se eu não escrevo
sabendo ninguém fica
se ninguém ficar sabendo
eu
saio
perdendo
Juro que ninguém
ficou sabendo
não escrevi
saí perdendo
mas
ninguém
ficou
sabendo
vitória
não fiquei sabendo
pois ninguém
escreveu
só eu saí
ganhando
injustiça
se ninguém escreve
quem ganha perde?!
Ah,
se
eu
soubesse...
Teria
ficado
perdido
ganhado

setecentos e dezenove*

O
teu nome é
todo limpo,
todos claros
ralos
e luminosos

não há trevas
e são 719
setecentos e
dezenove
sete centenas
uma dezena
e nove unidades
de brilho

jesus tinha
muitos nomes,
muitos nomes
mas os seus
tomaram
toda a pureza

Sem essa
de jesus...
setecentos e
dezenoves e
sorves
a escuridão

Setecentos e
vinte então?
Não!
não faltou em
ti contradição...

um deles se esconde
no ombro do raio
que fica de costas
pro sol

é um nome pardo,
pintado
malhado
bastardo
desgarrado

nome caído
expulso
chutado
banido
impuro

luciferiano
bacteriano
baratiano
fobia

setecentos e
dezenove
719 nomes
e uma bolha negra
seduz
sete centenas,
uma dezena
nove unidades
de luz!

todos claros
como o sol
leves como
o ar
todos flores
borboletas

o que há com esse
nome
legível
ininteligível
sombrio
ébrio
sozinho?

o que houve
com o irmão
mais velho?
se escondeu
no ombro do raio
ou no
aurélio?

setecentos e
dezenove,
luminescência.
essência malediscência.
paciência!
nome de poeta
se esconde
nas reticências...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Eram 2*

Eram 2
Um enfrentou o mar,
um alternava entre os mundos,
um tinha Sol,
um tinha gelo,
um tinha a idade das pedras,
um não tinha idade,
nos dois um poço do olho ao pescoço,
um jazia,
um dançava no jazigo,
um comia,
mas um engolia,
um chovia,
um gemia,
um cantava,
um ria,
um sabia,
um amava,
simultâneo.

Indestrutível*

Assim como o Sol
não consome a sí mesmo
e nem a peçonha fere o
seu dono,
também eu não padeço
com o amor
que há em mim
antes morrer com o que vem
ou não de ti.

Aceita?*

Queria te levar
em uma serra
onde ví a lua
certa vez,
há 9 anos...
fantástica, ela
entre nuvens
eu entre elas.
Nós dois entre elas?
Aceita?

Con(a)spiração*

Aquele monte de terra
sabia,
conspirava
com o vento que passou
pra me insultar,
sussurrava...
quando me viu de frente
a terra entulhada
sorriu sem boca
e balançou de leve
seu maldito pó.
o monte de terra desdenhou,
irônico, pretencioso,
pois sabia.
Até ele já sabia que eu
não existia.

Cores*

Aqui, tudo tem cor
de doença
e eu prefiro a cor
da sua morte.
ai que saudade
de ver
seu cadáver
se despedaçando
por aí...

Janeiro

Janeiro é um mês esquisito,
com cheiro de zero,
não é como novo,
é fadiga de vida.
é como se dezembro
fosse a festa e janeiro
a ressaca.
Nunca gostei de
janeiro

Eu no meio*

Você é adorado!
sem eu no meio
Você é adorado!

Morfologia?*

Você sabe porque
eu suspiro sempre?
é que quando você
diz "intertextualidade"
ou "queijo"
esqueço a morfologia
e ouço um soneto,
canção, poema,
poesia

O inferno*

"eu no inferno e você me mandando flores..."

O inferno é aqui fora e não aí com você.
Essas flores eu colhi de ti, quando por algumas horas pude fugir.

desejo*

Antes eu desejava molduras, travessuras, traços não desejados, profundidades antes nunca alcançadas.
Hoje desejo nada...
e como o desejo...

Febre*

"o que eu sinto por ti é febre."

Malditos sejam os
antitérmicos
vetem o marketting
destes vilões!
pois essa febre me
enobrece...
Não que eu mereça,
mas deus,
fez teste pra pai?

Ingênuo*

Seu cheiro me acha
me entorpece
então ele rí de mim,
gargalha inocente,
incoerente
com meus olhos
coitados, dementes,
pedintes insistentes
do que foi sem ouvir.

Veneno*

Teus lábios são finos.
em meio ao
que presenciei não os via
assim.
mas agora penso bem,
desenho o teu rosto e
esmiuço o arpejo
o relampejo
a fineza louca do teu
beijo
percebo que não te
senti com a boca,
nem tampouco
com a minhalma
pouca...
eu te senti veneno,
morrendo, pasme, sem
ferir o lábio

Eu devorando*

Eu devorando como
uma aborígene,
com minhas mãos
grandes de dedos finos,
parecia selvagem
e sedenta,
eu via de perto
sem antíteses,
sem nenhum paradoxo,
veja só...
Falo doce e angelical (mente)...
e não enxergo
contradição,
fundiu-se
perfeitamente com a fusão do instante,
com a sensação da fusão.

Pistas*

"vem pra mim, pra nós e nossos nós..."

Vou, pois vou a sós,
me soltar nos (em) nós
Te soltar a voz,
sem nenhuma dor
te ouvir dizer:
"Ai, amor!"

Saciedade*

"Vem beber em mim..."

Sabe qual é o extremo da
saciedade?
Por meio segundo eu pensei
saber
E logo depois do
momento
penso ter conhecido o
extremo oposto
Esse depois se prolonga, eu
acho e perco o gosto.
Desejo?
Sinta o calor do
meu rosto

Eram 2*

Eram 2
Um enfrentou o mar,
um alternava entre os mundos,
um tinha Sol,
um tinha gelo,
um tinha a idade das pedras,
um não tinha idade,
nos dois um poço do olho ao pescoço,
um jazia,
um dançava no jazigo,
um comia,
mas um engolia,
um chovia,
um gemia,
um cantava,
um ria,
um sabia,
um amava,
simultâneo.